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terça-feira, 21 de abril de 2009

EZEQUIEL


Vi os olhos do menino,
Eles tinham tanto olhar,
Que, já de longe eram cheios:
Cheios de brisa e de mar...
De encanto e de luar...
Cheios de menino ser ,
E navegar no viver
Com o cheio desse olhar.

Vi o menino nos olhos
Dentro do seu negro olhar
Cheio de brilho e doçura
Que a mim veio chamar.

Chama , menino, em mim
O gosto por velejar
Entre os mares do infinito
Que a vida faz chegar.




ESPERA


I

O homem era do mar
E trazia algas,
Em seus olhos de embarcação.
Me veio cedo da vida,
Quando ainda desfiava
Dos lençóis os fios
De virgens cambraias
E os estendia nos varais
Das alvoradas
Sobre finas magnólias de seda.
Era de azul lunar
O lugar do encanto,
Que de encontro nos fez chegar
Um no outro,
Como onda a se deixar na areia
Naufragada nos grãos.
Ele amava o mar
Como eu,amava a terra,
E ao cheirar minha flor
De cristais enluarados,
Partiu enlumecido sobre as águas ,
Até seu porto de partida
Onde um cais sempre o esperava ,
Pois que de mar em mar
Beberia oceanos ...
Até que voltasse em mim,
Sua presença marinha
De peixe com escama e corpo,
E eu,já a exalar odores
De floral carmim
Bebesse em minha boca
Sua maresia
Para naufragar em mim,
Sua morada de líquidos efêmeros;
Quase néctares ...
E depois partir
Para em longo mar
Ficar eternamente...
E chegar em terras
Que meu corpo nunca mais
Pudesse achar .




II

Aprendi as esperas do mar,
Desde que comecei a navegar
Os olhos e as algas
Do homem de azul marinho.
Aprendi ,que entre as estações
Tem os ciclos de conhecer
A espera com seus cios de esperança.
Aprendi que o tempo virá
A tempo ,de templo ser de cada coisa
Construída entre as mãos da vida.
E que virá o veio do rio,
Na voz do amado
Cantando o amor,
Que virá a querência entre os dedos
Nas tardes de colher
Os frutos nos cajueiros,
Que virá o vicejar dos corpos
Entre os mantos do roçado
A flutuarem nos pendões do milharal
Acordado pela neblina...
Aprendi silêncios ...
Aprendi silêncios...
Vagos,cheios...e lentos...
Entre o cheiro do café
A espargir no vento da casa
Seu cheirar de vida
Na divina existência das coisas confabuladas.
Aprendi o mistério que corpo tem
Para fiar o amor nos seus pistilos
E as gentilezas da carne
Quando se doa
E hóstia se faz de corpo e desejos...
Aprendi o meio
Que é miolo e centro
E que gera a vida.
Construída nos novelos
Entre as velas dos veleiros
A irem-se no mar...

2 comentários:

  1. Tudo lindo, sábio demais.
    Nem preciso falar de Ezequiel, minha emoção toma vertigens incalculáveis. Ou como vc mesma diz de imensidão: "Pois que de mar em mar
    Beberia oceanos ..."
    Fantástico

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