O verdadeiro e mais profundo sentido de Eros não é a satisfação individual do homem e da mulher, nem tampouco a procriação da prole. Eros tem um back-ground, um fundo ou substrato de natureza metafísica, cósmica, universal, que não é conscientemente percebido pelos sexos. Por detrás da conhecida profundidade da libido canta a ignota sacralidade de Eros...
Esse substrato cósmico de Eros é o anseio pelo retorno à fonte universal de todas as coisas individuais. Os indivíduos orgânicos, resultantes da união dos sexos, representam um processo centrífugo, dispersivo, rumo à periferia. Por que é que Eros tem o poder de individualizar novas vidas? Unicamente porque, no ato sexual, retorna ao oceano imenso da vida cósmica experimentando, geralmente, na estranha embriaguez do orgasmo voluptuoso.
A eterna Realidade não tem sexo. O Absoluto é essencialmente assexual. O homem – isto é, o ser humano como tal, o homo, o ântropos, o Mensch; não o vir, o anér, o Mann – desconhece sexo. A ramificação em dois sexos é o primeiro passo para a individualização do homem universal.
Entretanto, o homem assim individualizado em macho e fêmea conserva nas incônscias profundezas da sua natureza a reminiscência do que foi na sua fase pré-sexual e o que continua a ser, mesmo agora, na íntima essência do seu ser humano. Essa silenciosa nostalgia do seu estado puramente humano, pré-masculino e pré-feminino, ecoa perenemente em cada uma das células do varão e da mulher. A união sexual é uma tentativa de retorno dos dois ramos da árvore humana, macho-fêmea, ao tronco único da natureza humana como tal; o vir e a fêmina anseiam pelo homo; o anér e a gyné suspiram pelo ânthropos; o Mann e a Weib tentam reconstruir o Mensch.
Rohden
Fabiana Guimaraes Rocha é o novo endereço da poesia no Ceará. Ela não é apenas uma promessa literária que se desenha num futuro próximo ou distante. Ela é, já agora, uma das vozes mais belas e límpidas da poesia brasileira dos nossos dias. Uma voz que celebra as múltiplas dimensões da vida e do amor. Uma voz que acalma os ventos e as tempestades da conturbada hora presente. Uma voz que acena para os seus semelhantes com novas expectativas de esperança, de beleza e de paz. FRANCISCO CARVALHO
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
EU SEMPRE RECOMENDO
JOSEPH CAMPBELL
'EU SEMPRE RECOMENDO:VÃO ONDE SUA ALMA E SEU corpo desejam ir.Quando você sentir que é por ai mantenha-se firme no caminho e não deixem ninguém desviá-lo dele.'
'Poetas são simplesmente aqueles que adotam como profissão e como estilo de vida o estarem em contato com a própria bem-aventurança.A maioria das pessoas se preocupa com outras coisas,envolvem-se em atividades econômicas e políticas ou se deixam enganar em uma guerra que não é aquela que estão interessadas.Nessas circunstancias é muito difícil manter-se fiel ao propósito essencial.Trata-se de uma técnica que cada um precisa desenvolver por sua própria conta.
Pretende-se dedicar a fortuna ou a bem-aventurança?
Persiga sua bem-aventurança e não tenha medo,que as portas se abrirão ,lá onde vc não sabia,que haviam portas e mãos invisíveis lhe ajudaram.'
'Poesia consiste em permitir que a palavra seja ouvida para além das palavras.
Eis a função da poesia.Ela é uma linguagem que deve ser assimilada aos poucos,cuidadosamente .Ela envolve uma escolha precisa de palavras,cujas implicações e sugestões,ultrapassam as próprias palavras.Graças a isso,você experimenta o esplendor ,a epifania ,eu é uma aparição da essência.'
CLARICE LISPECTORE
Nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E no entanto cada vez que eu vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estréia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.
MANOEL DE BARROS
A frase para ser boa precisa ser uma coisa ilógica, o ilogismo é muito importante pois a razão diminui a poesia",
Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo "lugar de ser inútil". Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro memórias fósseis. Osso de urubu, etc. Faço escavações.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Sinal Vermelho
(Homenagem ao poeta José Alcides Pinto)
Sinal vermelho. Da janela do meu carro avisto o velho poeta atravessando a rua. Meus olhos vão seguindo aquele vulto, meio capiongo, já passos lentos. Vai conduzindo sua solidão ou por ela vai seduzido.
A solidão do poeta é povoada por seres deste e doutros mundos. Olho da janela do meu carro. O poeta não precisa de automóvel, é alado, e diáfano, por isso a multidão nem desconfia que ele existe.
Ele mesmo se pergunta, ou aos deuses, quem sou eu?, mas não obtém resposta. Aliás, respostas não são o forte dos poetas, que se contentam com as dúvidas. Para onde vai o turbilhão? Sem saber, os carros param para o poeta passar, a rua pára, o vento dispara uma rufada de gratidão. O semáforo é quem decide: vida ou morte. As calçadas esquivam-se dos pedestres.
O velho poeta segue repletamente vazio. Seus labirintos lhe bastam, o que não olha é o que vê. O velho poeta vai sobraçando papéis avulsos e a lânguida certeza de que a morte é conspiração. Uma certeza íntima, pouco lembrada, que resulta em mistério, contravenção ou metafísica.
Sou a platéia do velho poeta. Vejo-o transitar pelos meandros da babilônia e penso: a cidade inteira é menor do que o velho poeta.
Texto de Carlos Roberto Vazconcelos
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