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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O DRAMA DE EROS

O verdadeiro e mais profundo sentido de Eros não é a satisfação individual do homem e da mulher, nem tampouco a procriação da prole. Eros tem um back-ground, um fundo ou substrato de natureza metafísica, cósmica, universal, que não é conscientemente percebido pelos sexos. Por detrás da conhecida profundidade da libido canta a ignota sacralidade de Eros...

Esse substrato cósmico de Eros é o anseio pelo retorno à fonte universal de todas as coisas individuais. Os indivíduos orgânicos, resultantes da união dos sexos, representam um processo centrífugo, dispersivo, rumo à periferia. Por que é que Eros tem o poder de individualizar novas vidas? Unicamente porque, no ato sexual, retorna ao oceano imenso da vida cósmica experimentando, geralmente, na estranha embriaguez do orgasmo voluptuoso.

A eterna Realidade não tem sexo. O Absoluto é essencialmente assexual. O homem – isto é, o ser humano como tal, o homo, o ântropos, o Mensch; não o vir, o anér, o Mann – desconhece sexo. A ramificação em dois sexos é o primeiro passo para a individualização do homem universal.

Entretanto, o homem assim individualizado em macho e fêmea conserva nas incônscias profundezas da sua natureza a reminiscência do que foi na sua fase pré-sexual e o que continua a ser, mesmo agora, na íntima essência do seu ser humano. Essa silenciosa nostalgia do seu estado puramente humano, pré-masculino e pré-feminino, ecoa perenemente em cada uma das células do varão e da mulher. A união sexual é uma tentativa de retorno dos dois ramos da árvore humana, macho-fêmea, ao tronco único da natureza humana como tal; o vir e a fêmina anseiam pelo homo; o anér e a gyné suspiram pelo ânthropos; o Mann e a Weib tentam reconstruir o Mensch.
Rohden

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