



Fabiana Guimaraes Rocha é o novo endereço da poesia no Ceará. Ela não é apenas uma promessa literária que se desenha num futuro próximo ou distante. Ela é, já agora, uma das vozes mais belas e límpidas da poesia brasileira dos nossos dias. Uma voz que celebra as múltiplas dimensões da vida e do amor. Uma voz que acalma os ventos e as tempestades da conturbada hora presente. Uma voz que acena para os seus semelhantes com novas expectativas de esperança, de beleza e de paz. FRANCISCO CARVALHO
Fabiana como nasce a alma poeta? Tenho pensado que vocês são seres especiais. Conseguem em poucas palavras dizer tanto de tantos, do mais profundo do ser. Adoro você. Como mesmo disse, é maravilho ler alguém que nem lhe conhece e saber tanto de mim, parece que tava tudo guardado aqui e Deus inspirou alguém para dizer.
LUCILAIR BEZERRA
Por que as pessoas escrevem? Já me fiz tantas vezes esta pergunta que hoje posso respondê-la com a maior facilidade. Elas escrevem para criar um mundo no qual possam viver. Nunca consegui viver nos mundos que me foram oferecidos: o dos meus pais, o mundo da guerra, o da política. Tive de criar o meu, como se cria um determinado clima, um país, uma atmosfera onde eu pudesse respirar, dominar e me recriar a cada vez que a vida me destruísse. Esta é a razão de toda obra de arte.
Só o artista sabe que o mundo é uma criação subjetiva, que é preciso escolher, selecionar. A obra é a concretização, a encarnação do seu mundo interior. Ele espera impor sua visão pessoal, partilhá-la com os outros. Se não atinge esta última finalidade, o verdadeiro artista persiste assim mesmo. Os poucos momentos de comunhão com o mundo valem esse sofrimento, pois finalmente esse mundo foi criado para os outros como um legado, como um dom destinado a eles.
Também escrevemos para aprofundar o nosso conhecimento de vida. Para atrair, encantar e consolar. Escrevemos para acalentar nossos amantes. Para degustar em dobro a vida: no momento preciso e retrospectivamente, na sua lembrança. Escrevemos, como Proust, para tornar as coisas eternas e para nos convencermos de que elas o são. Para podermos transcender nossa vida e alcançarmos o que existe além dela. Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem ao labirinto. Para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos sufocados, oprimidos ou abandonados. Escrevemos como os pássaros cantam, como os primitivos dançam seus rituais. Se você não respira quando escreve, não grita, não canta, então não escreva porque sua literatura será inútil. Quando não escrevo, meu universo se reduz; sinto-me numa prisão. Perco minha chama, minhas cores. Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades – é a isto que eu chamo de respirar.
A vida de todos os dias não me interessa. Procuro apenas os momentos elevados. Estou de acordo com os surrealistas quanto à procura do maravilhoso.
Quero ser uma escritora que lembre aos outros que estes momentos existem. Quero provar que existe um espaço infinito, um sentido infinito para as coisas, uma dimensão infinita.
- Anais Nin
agosto 23, 2011 por forumce
A Rádio FM Assembleia (96,7 MHz) consiste numa excelente alternativa não só pelos seus noticiários e coberturas ao vivo do mundo político mas também pelo seu menu cultural. Dentre as opções, destacamos o programa de entrevistas Autores & Ideias, produzido e apresentado por Lilian Martins.
Exibido aos sábados (15h), com reprise às terças-feiras (20h), o cenário literário brasileiro se esplende no bate-papo entre a comunicadora e seu convidado. Uma conquista para a literatura que tem nosso reconhecimento.
Os programas podem ser acessados online. Clique no link abaixo e confira, entre outras, a entrevista com a poetisa Fabiana Guimarães, por exemplo.
Para quem não sabe, CORA CORALINA é uma poeta fantástica, que publicou seu primeiro livro aos 76 anos.
Além de poeta, Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, o nome verdadeiro de Cora Coralina, era também uma cronista excelente; enfim uma das maiores escritoras do Brasil. Publicou oito livros e intermináveis textos.
Cora coralina morreu em 1985, aos 95 de idade, certa de ter cuidado mais do seu interior que de seu exterior.
Ao morrer Cora tinha todas as linhas da vida em seu rosto, e que vida ! Uma das frases mais citadas de Cora é: Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
Mas num dado momento de sua vida, um repórter perguntou à ela “o que é viver bem”. Leiam a resposta de Cora Coralina:
—
“Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice.E digo prá você, não pense.Nunca diga estou envelhecendo ou estou ficando velha.Eu não digo. Eu não digo que estou ouvindo pouco.É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.
Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida. O melhor roteiro é ler e praticar o que lê. O bom é produzir sempre e não dormir de dia.
Também não diga prá você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.
Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima. Eu não digo nunca que estou cansada. Nada de palavra negativa. Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica. Você vai se convencendo daquilo e convence os outros.
Então silêncio! Sei que tenho muitos anos. Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades, mas não sei se sou velha não.
Você acha que eu sou?
Tenho consciência de ser autêntica.
Procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade. Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.”
A tarde estava disposta ao seu fim. No corpo do ocaso um pássaro cantou seu canto conhecido e raro repicando sonoridade naquele espaço de tempo. Com fala melodiosa - de pássaro - ele conduzia a todos para um lugar de sonhar a vida... Para além Dali.
Muitos dos que passavam paravam para ouvi-lo. Já os que ali estavam, iam se mobilizando cada um ao modo da sua necessidade de escutar pássaros… Aquele canto atingindo almas, destravava adornados e adormecidos sonhos.
Fui vendo em cada rosto, sonhos sendo traçados... Estradas nascendo... Rios mergulhados... Risos abertos arrebentando nascentes de liberdade... Todos relembravam e desejavam o gosto bom de voar e cantar.
Ser pássaro naquele instante em que a vida abriu gaiolas era o que eles mais queriam para fazer o voar se dar para além das imagens.
Foi bom. Foi tão bom que até aqueles que só acreditam no que podem tocar, destravaram suas fantasias e tentaram capturar o pássaro. Porque sonharam com a possibilidade de ter, todos os dias, aquele cantar de acordar sonhos pendurados em uma gaiola... Na varanda de suas casas.